domingo, 5 de julho de 2009

O ensino de Orígenes em Alexandria

Quando viu que ele sozinho não bastava para o estudo aprofundado, a pesquisa e a explicação das letras sagradas, e ainda a catequese dos que procuravam e não lhe permitiam nem mesmo respirar, porque, uns após outros, frequentavam sua escola da aurora até à noite, dividiu o grande número de pessoas e, entre seus discípulos, escolheu Héracles, zeloso nas coisas divinas e, aliás, homem muito discreto e a quem não faltava a filosofia. Entregou ao colega a catequese, confiando-lhe a primeira iniciação dos que acabavam de começar, reservando para si a instrução dos mais adiantados.

E enquanto o renome de Orígenes era celebrado por toda a parte, muitas pessoas instruídas o procuravam para fazer junto desse homem a experiência da aptidão nas doutrinas sagradas. Milhares de hereges e um grande número de filósofos juntavam-se à ele com zelo para dele aprender - podemos quase afirmar - não apenas as coisas divinas, mas também as da filosofia profana.

Na verdade, todos os que ele julgava naturalmente bem dotados eram introduzidos nas disciplinas filosóficas, na geometria, na aritmética e nos outros ensinamentos preparatórios; depois, ele lhes dava a conhecer as seitas existentes entre os filósofos e lhes explicava os escritos destes, comentava-os e examinava-os pormenorizadamente, de modo que entre os próprios gregos esse homem era proclamado um grande filósofo.

Ele conduzia os menos dotados, em grande número, aos estudos cíclicos (ciclo dos estudos clássicos), cuja utilidade não seria pequena, em sua opinião, em vista do conhecimento e da preparação às Escrituras divinas. Assim, julgava inteiramente necessário, mesmo para si próprio, exercitar-se nas disciplinas profanas e na filosofia...

As testemunhas de seus sucessos nessas matérias são os próprios filósofos gregos que brilharam no seu tempo, e em cujas obras encontramos inúmeras referências a esse homem; a ele dedicam seus próprios escritos e apresentam trabalhos pessoais ao seu julgamento, como a de um mestre.

Eusébio de Cesaréia, História eclesiástica, VI, 15; 18-19.

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