domingo, 5 de julho de 2009

Vida do insinge padre Orígenes de Alexandria

Nascido por volta de 185 em uma família profundamente cristã, Orígenes esteve, desde a juventude, no ambiente de perseguição da Igreja pelo poder, no tempo de Sétimo Severo. Seu pai morreu mártir em 202 mais ou menos, e é provavelmente o exíio forçado do clero de Alexandria que explica o fato de, pouco tempo depois, aos 18 anos, ele ter sido encarregado pelo bispo Demétrio da formação dos catecúmenos.

Assume suas funções não apenas com seriedade, mas com exagero dramático, vendendo seus livros profanos e impondo-se uma vida extraordianriamente mortificada, chegando à castração voluntária: fato estranho, mas por demais conhecido e criticado, para que seus admiradores mais entusiastas pudessem tê-lo negado.

Fazem parte do seu auditório pessoas intelectualmente exigentes e mesmo pagãos e adeptos de seitas atraídos por seu renome. Esse novo público o convence da necessidade de se orientar para um estudo sistemático e rigoroso da Escritura, e para uma reflexão teológica aprofundada. Daí data sua opção definitiva pela pesquisa e ensinamento científico, apoiados nas disciplinas profanas. Inaugura assim, um profundo ensinamento cristão, fazendo seus alunos passar pelo ciclo dos estudos clássicos para chegar ao estudo da Bíblia e da doutrina. ele mesmo é levado a iniciar-se em filosofia; recebe, talvez, as lições de Amônio Sakkas, pouco mais tarde mestre de Plotino e considerado iniciador do neoplatonismo. Isso é de primordial importância para a história do pensamento patrístico: a influência da tradição platônica se torna, com Orígenes, não exclusiva, longe disso, mas predominante em relação às outras correntes filosóficas, em muitos dos padres. Na história geral da filosofia, Orígenes é testemunha da passagem do "médio platonismo" ao neoplatonismo. No entanto, não conheceu Plotino, 20 anos mais jovem que ele.

O incêndio da perseguição crescia nesse momento, e milhares de fiéis haviam cingido a coroa do martírio; uma tal paixão pelo martírio se apoderou da alma de Orígenes, ainda muito criança, que ele se encheu de coragem para se expor aos perigos, saltar e correr para a luta.

Pouco faltou, já nesse momento, para que estivesse bem próximo o fim de sua vida, mas a divina e celeste Providência, tendo em vista o proveito de muitos, colocou-lhe obstáculos à coragem, por intermédio de sua mãe. Pois ela suplicou, primeiro com palavras, exortando-o a ter compaixão dos sentimentos maternos quen tinha por ele; no entanto, vendo-o agitar-se com mais vigor, quando ele, tendo sabido da captura e da prisão do pai, fora inteiramente tomado pelo desejo do martírio, escondeu todas as suas roupas obrigando-o assim a ficar em casa. Mas, como ele já não podia fazer nada e seu desejo crescia acima de sua idade, não lhe permitindo ficar inativo, enviou ao pai uma carta cheia de exortações a respeito do martírio, na qual ele o animava, diendo textualmente: "Preserva-te de mudar de opinião por nossa causa". Que isso seja anotado por escrito, como a primeira prova da vivacidade de espírito de Orígenes criança e de suas inclinações bem evidentes pela religião.

na verdade, ele já lançara fundamentos sólidos nos conhecimentos da fé, exercitando-se desde à infância nas divinas Escrituras; aplicara-se a isso laboriosamente e não em medida comum, pois o pai, não contente em fazê-lo passar pelo ciclo dos estudos, não havia considerado acessória a preocupação pelas Escrituras. Portanto, acima de tudo, antes que se dedicasse às disciplinas helênicas, incitara-o a realizar estudos sagrados, exigindo dele, todos os dias, recitações e relatórios...

Quanto a ele, extremamente satisfeito, dava as maiores graças a Deus, causa de todos os bens, por se ter dignado fazer dele o pai de tal filho. Dizem que parava, então, com freqüência, junto do filho adormecido e, descobrindo-lhe o peito, como se um espírito divino lhe habitasse o interior, beijava-o com respeito, julgando-se feliz pela posteridade que tinha.

FONTE:
Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, VI, 2;3-11
A partir da tradução de Sources Chrétiennes, n. 41,pp. 83-85.

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